O que
atrai a multidão é uma árvore de Natal montada sobre uma balsa que fica a boiar
na Lagoa Rodrigo de Freitas. Há quase vinte anos é assim. Ao redor da Lagoa, nessa
época, o trânsito fica mais lento. Já foi pior.
Há quem se
irrite com o engarrafamento.
Há quem se
revolte com o ‘nível’ dos frequentadores da Lagoa.
Tá lá no Google,
ipsis litteris:
- Odeio
essa arvore da lagoa!!!so traz paraiba!!!!!:((((
Vomita Theo.
- Ja deu
dessa arvore da lagoa q é igual todo ano e por alguma razao q meu intelecto n
compreende reune um bando de paraiba
Esbraveja
Sofia.
- vsf essa
arvore da lagoa !! esse monte de paraiba vindo p ca e fica infernal pra quem
mora aqui na lagoa !!! BOTA NA ZONA NORTE
Berra
Felipe.
Pelas
fotos, são jovens bem alimentados, passaram pela adolescência faz pouco tempo. De
quem eles herdaram tanto rancor?
Três anos
no Rio me ensinaram. Paraíba não é
apenas um dos estados da federação.
É substantivo.
Todo nordestino é paraíba.
É adjetivo
também.
- Que decoração
paraíba! Tudo branco, um
horror.
Comentou
um letrado pai de família após visitar uma casa com decoração, para ele, de mau gosto. Nas décadas de 50 e 60 as populações de Rio e de São Paulo praticamente dobraram. Os imigrantes nordestinos colaboraram para isso. A seca afugentou milhões do semiárido. Os grandes centros urbanos do Sudeste seriam a salvação.
Quem chegou não tinha formação. Restaram os salários mais baixos, o subemprego.
- Se é pedreiro, é paraíba.
'Brincou' o sujeito numa mesa animada entre um sushi e outro.
- Impressionante,
só tem porteiro e garçom paraíba.
Ouvi de uma
atleta famosa, alva, de cabelos negros escorridos.
O xis da
questão é outro. O preconceito geográfico, na verdade, esconde o principal: o
preconceito de classes. É preconceito contra o pobre. E contra o que, supostamente, ele representa:
‘mal educação’, ‘feiura’, ‘breguice’, ‘preguiça’.
Ou todo
mundo que lota a Lagoa nasceu no Nordeste ou é filho de nordestino?
- Já fui
chamado de paraíba. Mas nasci no Rio
Grande do Sul.
Me contou
aos risos João Carlos, o Joca, barraqueiro no posto 9, em Ipanema, na saída da
Vinícius de Moraes.
Joca é
negro.Eu mais testemunhei do que fui propriamente vítima desse preconceito.
Talvez porque não ser ‘dessa
classe C que invade a Lagoa’. Talvez por
não ser porteiro. Talvez por não ser barraqueiro. Talvez por não ser negro. Talvez por não
ser pobre.
Por isso, compartilho do desejo da amiga paraense Sabrina Rocha para o ano novo: “um 2015 com menos gente preconceituosa, babaca e mal-educada. Seria melhor do que ganhar a Mega Sena da Virada”.
Caros meninos das redes, caros eleitores de fascistas, caros terráqueos, em geral: ponham rapadura no coração. Mais doçura e menos ódio, por favor.
Vai por mim, fará bem pras artérias.
Ah, ainda dá
tempo de tirar foto na árvore. Ela ficará boiando na Lagoa até 6 de janeiro. Se
não der, paciência, no fim de ano tem de novo.